Não Utilize nil ou NULL


O conceito NULL, também conhecido como “O erro de 1 bilhão de dólares”, foi inventado por Charles Antony Richard Hoare em 1965.

Em uma conferência em 2009, ele pediu desculpas por inventar a referência nula.

Mas o estrago já havia sido feito…

NULL

A referência NULL — o mesmo vale para nil do Object Pascal — é antiga e existe, talvez, em todas as linguagens de programação.

O conceito também é valido para SGBD’s.

Então por que estou dizendo para você não utilizar nil ou NULL?

NULL ou nil não pertencem ao mundo Orientado a Objetos.

Pense por um segundo, como seria o mundo sem o NULL.

NULL na Orientação a Objetos

De agora em diante quando eu disser NULL, pense também em nil.

Esse blog fala de Orientação a Objetos com Object Pascal, então nós, programadores Object Pascal, utilizamos o nil ao invés de NULL quando estamos falando sobre Objetos e referências a Objetos. Se estivermos falando de dados, então é NULL mesmo. Mas como a maioria das linguagens e papers falam sobre NULL, fica mais claro para todos — inclusive para programadores que não programam em Object Pascal — falarmos sobre NULL para nos referirmos a ambos.

Então.

O que significa NULL na Orientação a Objetos?

Nada.

Não existe instância, não existe um Objeto. Ninguém para receber uma mensagem (método) e fazer alguma coisa.

Mas um método pode retornar NULL se o contexto em execução não tiver um Objeto válido para o retorno — você poderia afirmar.

Bem, em um código Orientado a Objetos você deve ter Objetos “conversando” entre si e NULL não é uma instância válida.

Todo método que retorna um tipo de Interface ou Classe deveria retornar uma instância válida. Sempre.

Se não for possível, levante uma exceção.

Essa é a teoria.

Infelizmente essa teoria não funciona na prática. Não em 100% das vezes.

Não há como saber, previamente, se um método que deveria retornar uma instância de algum Objeto irá retornar uma instância válida ou NULL.

Muitos frameworks utilizam NULL, o SGBD retorna NULL, o mundo utiliza NULL

Esse é o problema. O NULL existe e não podemos ignorá-lo.

Felizmente existem técnicas para evitá-lo e proteger nosso código de seu uso.

  1. Null Object Pattern
  2. Optional Pattern
  3. Listas
  4. Levantar uma Exceção

1. Null Object Pattern

O padrão Null Object Pattern sugere utilizar um “Objeto Nulo” que implementa a mesma interface do Objeto real, no entanto esse Objeto não teria implementação.

Tradução livre:

Em vez de utilizar uma referência nula para transmitir ausência de um objeto (por exemplo, um cliente inexistente), utiliza-se um objeto que implementa a interface esperada, mas cujo o corpo dos métodos estarão vazios.
— Wikipedia

É uma boa ideia. Mas não resolve o problema. Aliás, em alguns casos, pode-se aumentar o problema introduzindo um Objeto que “não faz nada” e não levanta exceções. Pode ser difícil encontrar bugs devido ao seu uso.

Esse tipo de Objeto pode ser utilizado, na minha opinião, não como um “Objeto Nulo” mas como um “Objeto Default”, que contém código real.

Em um Sistema de Pagamentos, cada Documento tem um código. Cada um desses códigos tem uma “Classe de Cálculo” específica que irá fazer o cálculo do valor a ser pago. O Objeto é criado de acordo com o código, utilizando uma Fábrica de acordo com o padrão Abstract Factory Pattern.

O problema ocorre se o usuário criar um novo código para o qual ainda não existe um Cálculo pré-determinado. Nesso momento utilizo o “Objeto Default”. É uma Classe padrão que serve para calcular qualquer novo Documento que não tenha uma Classe de Cálculo definida.

O cálculo pode não estar 100% correto para o usuário, mas também não considero um erro pois a Classe de Cálculo ainda não foi definida.

É uma solução elegante para um problema temporário.

2. Optional Pattern

Optional Pattern ou Option Type é nada mais, nada menos, que a utilização de Generics para encapsular o resultado de um método, quando esse resultado pode ou não conter uma instância válida.

Optional também é conhecido por Maybe. É um conceito das linguagens funcionais que foram implementados em linguagens imperativas como Java e C#.

Basicamente você tem uma Classe genérica que contém os seguintes métodos:

  • IsNull — indica se o valor encapsulado é NULL;
  • Value — retorna o valor real, ou seja, o Objeto encapsulado;

O nome dos métodos podem variar dependendo da Lib utilizada.

Este link tem exemplos em C# interessantes.

3. Listas

Como podemos simular o Optional Pattern sem utilizar Generics?

Ora, Listas!

Generics é muito utilizado, mas não o acho impressindível. Generics nos permite escrever menos e, é isso. O que é muito bom pois menos código, menos bugs.

Mas para o problema do NULL você não precisa de Generics, basta utilizar Listas.

Qual a diferença entre ter uma condicional que verifica o método IsNull de um Optional para depois utilizar sua propriedade Value para obter a instância, do que ter uma Lista que também devemos verificar Empty e depois obter o primeiro Item[0] da lista? :)

Então se está utilizando uma versão antiga do Delphi — eu ainda utilizo Delphi 7 para alguns sistemas — que não tem Generics e não tem certeza se um método poderá retornar NULL, pense em retornar uma Lista com itens que contém o tipo da interface que o método deveria retornar. Se a lista não está vazia, basta pegar o primeiro item.

4. Levantar uma Exceção

Se tudo der errado, levante e uma exceção. É isso. Falhe rapidamente.

Mas como saber se devo utilizar uma das técnicas acima ou levantar uma exceção?

Não há uma regra. Deve-se usar o bom senso.

Se você tem um método que pesquisa pelo Id, então quer dizer que o sistema, naquele momento, tem o Id do registro e ele deveria existir. Se nada é retornado, então levante uma exceção.

Se a pesquisa é por Nome, no entanto, então não há certeza de retornar 0-n registros. Nesse caso levantar uma exceção não faria muito sentido.

Conclusão

Não há mágica para remover o NULL. Mesmo utilizando as técnicas apresentadas acima, deve-se codificar uma condicional para verificar a presença ou não do NULL.

Muitos frameworks, API’s, componentes irão utilizar o NULL, então tais verificações sempre irão existir no seu código.

Você irá utilizar NULL ou nil, isso é quase um fato.

Esse artigo propõe a não utilização do NULL em Objetos que fazem parte do Domínio do seu sistema, ou seja, das suas Classes de Negócio.

Não permita que seus métodos retornem NULL.

Não utilize NULL em lógicas condicionais de suas Classes.

Você deve estar pensando:

Testar se uma instância é NULL não é o mesmo que testar se um Optional ou Lista estão vazios antes de obter seu Value?

O teste é o mesmo, sim. Você terá um if no código, é verdade. Mas se o valor retornado no método é uma instância de algum Objeto que implementa alguma interface, não tem como saber se a instância é válida ou NULL. E ninguém, nenhum programador, testa todos os retornos de todos os métodos.

No entanto, Optional ou Listas avisam ao programador que algo pode dar errado, que NULL pode ser retornado. Cabe ao programador fazer a análise, fazer o teste ou não… mas ele foi avisado.

O código fica auto-documentado sobre o possível retorno de valores NULL nos métodos.

Até logo.

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