É possível utilizar a Injeção de Dependência na Orientação Objetos sem depender de características específicas da linguagem, Arquivos XML, Atributos/Anotações ou Frameworks?
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Introdução
A Injeção de Dependência ou apenas DI (em Inglês: “Dependency Injection”) pode ser um assunto bem controverso que ainda geram muitas dúvidas entre desenvolvedores.
Será que DI é algo complexo que exige um framework para gerenciar as dependências entre Classes de um software?
É necessário um arquivo XML para que o desenvolvedor possa configurar tais dependências?
Talvez possamos utilizar Atributos/Anotações para facilitar essas configurações?
Como podemos utilizar o conceito de IoC sem um framework?
O mercado tem várias maneiras de “injetar” alguma coisa, porém eu lhe digo: Injeção de Dependência é apenas passagem de parâmetro entre Objetos.
Artefatos
Qualquer sistema Orientado a Objetos que faça algo de útil, terá dependências entre suas Classes ou Módulos.
Um Módulo/Classe A
que usa B
que usa C
(A->B->C
) estão conectados entre si.
Sempre devemos minimizar essas dependências afim de facilitarmos a manutenção do código, porém é impossível não tê-las.
Mesmo assim, o mercado resolveu criar todo tipo de “artefatos” como frameworks, atributos/anotações ou configurações em arquivos XML, para “facilitar” a comunicação entre os Objetos, tornando “transparente” para o desenvolvedor as dependências existentes entre as Classes.
Na minha opinião, eles trouxeram mais problemas e complexidade do que uma real solução.
Pense bem:
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Um Framework para Injeção de Dependência, deixa seu código dependente do próprio framework que gerencia as dependências!
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Os Atributos/Anotações que informam quais atributos do Objeto devem ser inicializados “magicamente” utilizando reflection/RTTI ou utilizando Services Locators, retiram do Objeto seus construtores, tornando-o anêmico e procedural, pois é preciso chamar Setters para “configurar” o Objeto antes de fazer algo de útil com ele. Seu uso é totalmente desencorajado pois viola o encapsulamento transformando o Objeto num “saco de dados”, além de introduzir acoplamento temporal.
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Arquivos XML de configuração que armazenam quais Classes serão utilizadas para instanciar tais Interfaces é algo abominável: é estático, não segue o princípio DRY, e não tem checagem de sintaxe.
Tais “soluções” criam, na verdade, outros problemas.
Mas, e se fosse possível ter um código mais simples, sem XML, sem Atributos/Anotações ou mesmo sem Frameworks, para trabalharmos com a Injeção de Dependência utilizando somente Classes e Objetos, você iria continuar utilizando outros artefatos complexos?
Vamos ver quais são os tipos de dependências mais utilizadas e então veremos se é possível termos soluções simples para cada uma delas.
Dependência por Construtor
Dependência por Construtor é a maneira mais simples e eficaz de resolver dependências entre Objetos.
Esse é o tipo de dependência pura que é negligenciado por muitos desenvolvedores.
Exemplo:
THash.New(
TFile.New('file.xml').Stream
).Calc
No exemplo acima a Classe THash
recebe um Stream
(dependência) no seu construtor. Obviamente o tipo do argumento é uma Interface (ex: IStream
) para que não haja uma dependência “física” entre as Classes.
Não há nenhum problema a ser solucionado aqui. Essa é a forma mais correta e eficaz para “injetar” uma dependência.
Sempre tente utilizar construtores para passar as dependências para os Objetos. A única exigência é que os argumentos do construtor sejam do tipo Interface ao invés de Classes.
Dependência por Decoração
A utilização de bibliotecas (Libs) é muito útil para desenvolvermos mais rápido. Ao invés de criamos tudo que o software precisa, podemos delegar vários serviços às Libs especialistas no assunto. É como “contratar” consultores profissionais para cada especialidade.
O “problema” é que essas Libs utilizam seus próprios Objetos. Bem, elas sabem o que fazem, porém há momentos que gostaríamos de “dizer” a essas Libs quais Objetos deveriam retornar em alguns momentos.
Seria interessante se pudéssemos decorar instâncias retornadas por Objetos pertencentes a Lib.
Por exemplo. No código abaixo nós obtemos uma instância de um Objeto que representa um Atributo num arquivo XML:
Attr :=
TXMLPack.New(
TFile.New('file.xml').Stream
)
.Node('/root')
.Attrs
.Item('id');
ShowMessage(Attr.Text);
Veja que o desenvolvedor não tem controle sobre como a Lib irá instanciar esse Objeto internamente, pois primeiro TXMLPack
retorna outro Objeto em Node()
e então retorna uma lista Attrs
para então pesquisar e retornar a instância que queremos.
É claro que podemos decorar qualquer instância retornada por qualquer Lib dentro do nosso próprio código, mas teríamos que fazer isso todas as vezes em todos os lugares.
Por exemplo, se quiséssemos decorar instâncias de TXMLAttribute
(Lib) com a nossa Classe TMyAttribute
, teríamos que implementar dessa forma:
Node := TXMLPack.New(
TFile.New('file.xml').Stream
)
.Node('/root');
// id attribute
IdAttr :=
TMyAttribute.New(
Node('/root').Attrs.Item('id')
);
// name attribute
NameAttr :=
TMyAttribute.New(
Node('/root').Attrs.Item('name')
);
Veja acima que foi preciso decorar cada instância (Atributos id
e name
) com a nossa Classe.
Mas mesmo sendo um código repetitivo, é viável.
No entanto, se a Lib for desenvolvida para dar a opção ao desenvolvedor para decorar esses Objetos criados internamente, é provável que ela utilize o padrão Abstract Factory.
Essa seria uma opção simples para utilizar Injeção de Dependência de forma totalmente desacoplada e sem repetições.
Vamos a um exemplo:
{ First we need to include a factory
in some place of the code }
TXAttributeFactories.New
.Add(
// your own factory
TMyAttributeFactory.New
);
// ...
{ Then, Lib's code will use these factories
to decorate each new Attribute instance }
function TCAttributes.Item(AIndex: Integer): IXAttribute;
var
A: TDOMNode;
begin
A := FNode.Attributes.Item[AIndex];
if not Assigned(A) then
raise EXError.CreateFmt(
'Node not found on index %d.', [AIndex]
);
{ At this point, factories instance will
find TMyAttributeFactory instance and it
will use to return a new instance,
wrapping TCAttribute instance }
Result :=
TXAttributeFactories.New
.Decorate(
TCAttribute.New(FNode, A)
);
end;
O código acima é do Projeto Xavier, porém a chamada à Classe TXAttributeFactories
é apenas uma simulação, exemplificando como a implementação poderia ser codificada.
Veja que o método Decorate(Attr: IXAttribute)
recebe apenas uma instância já criada, ou seja, a fábrica não sabe como criar uma nova instância de IXAttribute
, ela apenas sabe como decorar uma instância já existente.
Dependência Tardia
Chamo de dependência tardia quando um Objeto A
só precisa de uma instância B
num dado momento, dependendo de uma escolha do usuário ou evento externo. Em outras palavras, não sabemos se iremos precisar ou não da instância do Objeto B
quando estivermos compondo nossos Objetos para trabalhar numa determinada tarefa.
Talvez esse tenha sido o grande problema que mais motivou a construção dos artefatos e frameworks já citados.
Vamos a um exemplo:
Suponha que o Objeto A
receba uma conexão com um SGBD através de seu construtor e em um dos seus métodos é instanciado um Objeto B
.
A instância de B
também precisa da conexão com o SGBD, então basta passarmos no construtor de B
a conexão já recebida no Objeto A
.
Então B
, em um de seus métodos, instancia e retorna um Objeto C
e, nesse caso, C
não precisa de uma conexão. No seu construtor não há nenhum argumento desse tipo.
O programa continua e agora essa instância de C
precisa instanciar um Objeto D
. Esse último Objeto, tem métodos que retornam outros Objetos, porém para instanciá-los uma conexão ao SGBD é necessária… mas nesse ponto não temos esse Objeto da conexão.
A (conection)
B (conection)
C ()
D ()
E (conection ?)
Esse é o grande problema.
Onde o Objeto D
iria conseguir uma conexão ao SGBD para utilizar como argumento na criação de outros Objetos que necessitam de tal argumento?
Nas linguagens Funcionais, existe o conceito de Currying.
Ao invés de termos funções que recebem N parâmetros, haverá funções com apenas 1 parâmetro que chamará outra função, e outra, e mais outra…
Esse vídeo explica o conceito:
No entanto, pode ser um conceito difícil de entender pra quem é acostumando com linguagens imperativas.
Bem, não temos Currying nas linguagens Orientadas a Objetos, mas temos Classes e Objetos.
Então, utilizando apenas Classes e Objetos, como podemos fazer a Injeção de Dependência e obter argumentos onde e quando for preciso?
A resposta é a mesma: Abstract Factory.
No entanto, ao invés de apenas decorar uma instância, a fábrica iria criar uma nova do início.
Essas fábricas teriam mais métodos, possivelmente métodos com as mesmas assinaturas dos construtores e Métodos New já existente na Classe original.
No exemplo anterior, o método Decorate(...)
foi utilizado para decorar uma instância já existente. Aqui, sugiro utilizar a nomenclatura Make(...)
que irá criar uma nova instância.
Esse tipo de fábrica seria muito mais utilizado em aplicações do que em Libs, no entanto.
Conclusão
Injeção de Dependência é passagem de parâmetro.
Vimos nesse artigo algumas possíveis opções para resolver os tipos de Dependência mais comuns.
Vimos que não é necessário frameworks complexos ou qualquer outro artefato além de Classes e Objetos simples para utilizarmos Injeção de Dependência na sua forma mais pura.
Infelizmente o espaço de um único artigo não é suficiente para implementarmos uma solução completa.
Seja simples. Utilize Classes e respeite seus Objetos sem quebrar o encapsulamento.
Até logo.